A proibição do culto aos anjos (e dos santos, por analogia)
na visão de Paulo, segundo o texto de Colossenses 2.18:
“Que
ninguém, a pretexto de humildade e culto aos anjos, vos impeça de
alcançar a vitória. Tal pessoa baseia-se em pretensas visões,
deixando-se ingenuamente inchar de orgulho por sua mente carnal”
(Colossenses 2.18, Bíblia CNBB)
Bíblia
de Jerusalém:
"(...)
Os erros em Colossas que Paulo combate ainda não são os dos
gnósticos do século II, mas antes ideias comuns entre os essênios
judeus. O perigo em Colossas era o resultado de especulações
judaicas (Cl 2,16) basicamente sobre os poderes celestes ou cósmicos.
Pensava-se que estes controlavam o movimento do cosmo e os
colossenses tendiam a exagerar sua importância de tal modo a
comprometer a supremacia de
Cristo. O autor desta carta aceita os postulados da luta e
não põe em dúvida a atividade desses poderes; até chega a
assimilá-los aos anjos da tradição judaica (cf. 2,15). Mas é
precisamente para recolocá-los no seu devido lugar no grande
desígnio da salvação. Eles cumpriram sua missão de
intermediários e administradores da Lei. Atualmente está terminada
essa função. Instaurando a nova ordem, o Cristo Kyrios assumiu o
governo do mundo. Sua exaltação celeste o colocou acima dos poderes
cósmicos, que ele despojou de suas antigas atribuições (2,15).
(...) Libertados desses 'elementos do mundo' (2,8.20) por sua união
ao Cristo-Cabeça e pela participação em sua plenitude (2,10), os
cristãos não devem recolocar-se sob a tirania deles por meio de
observâncias obsoletas e ineficazes (2,16-23). (...)"
(Introdução
às cartas de Paulo)
Bíblia
edição Pastoral (versão digital):
"(...)
Os cristãos de Colossas eram provenientes do paganismo (1,21.27) e
costumavam reunir-se nas casas de família como na de Ninfas (4,15) e
na de Arquipo (4,17; Fm 2). A carta aos Colossenses foi escrita na
prisão, provavelmente em Éfeso, entre os anos 55 e 57 (At 19),
talvez na mesma ocasião em que foi escrita a carta aos Filipenses.
Epafras informou Paulo sobre a situação dos cristãos em Colossas
(1,8). Os cristãos estavam ameaçados por uma heresia que
misturava elementos pagãos, judaicos e cristãos. Seus
seguidores davam muita importância aos poderes angélicos, às
forças cósmicas e a outros seres intermediários entre Deus e o
homem, que teriam papel importante no destino de cada pessoa.
Essas ideias traziam como consequência a busca de um conhecimento do
mundo fascinante e misterioso que dominava os homens. Ao lado disso,
depositava-se confiança numa série de observâncias religiosas que
garantiriam a benevolência desses poderes: observância de festas
anuais, mensais e sábados, leis alimentares (2,16.21) e ascéticas
(2,23), culto aos anjos (2,18) e às forças cósmicas (2,8)
etc. Tudo isso comprometia seriamente a pureza da fé cristã.
Paulo então mostra que Cristo é o mediador único e universal
entre Deus e o mundo criado; tudo se realiza por meio dele, desde a
criação até a salvação e reconciliação de todas as coisas.
Deus colocou Jesus Cristo como Cabeça do universo, e os cristãos,
que com ele morreram e ressuscitaram e a ele permanecem unidos, não
devem temer nada e a ninguém: nada mais, tanto na terra como no céu,
pode aliená-los e escravizá-los. Doravante, o empenho na fé em
Cristo é o caminho único para a verdadeira sabedoria e liberdade.
Só a renovação em Cristo pode derrubar as barreiras entre os
homens, dando origem a novas relações humanas radicalmente
diferentes daquelas que costumam existir na sociedade (3,11). O
problema que Paulo enfrenta em Colossas não é a contraposição
entre fé e incredulidade. Trata-se de uma questão que surge dentro
da própria Igreja: distinguir entre o verdadeiro e o falso na
interpretação da própria fé. E isso não é problema meramente
teórico, pois a concepção que se tem da base da fé determina toda
a prática da vida cristã."
(Introdução
ao livro de Colossenses)
Bíblia
Ave-Maria – edição de estudos (versão digital):
"(...)
Aqui Paulo utiliza uma linguagem para aqueles a quem se refere e faz
alusão a uma situação concreta conhecida pelos próprios
correspondentes. Mas o perigo em Colossos deriva das especulações
baseadas no judaísmo (2,16) e fortemente influenciadas pela cultura
helênica, em especial pela sua filosofia. Estes atribuíam aos
poderes celestiais que comandavam o ritmo do cosmos uma importância
excessiva, comprometendo a supremacia de Cristo. Essa corrente
é sincretista. Evolui a partir do paganismo vulgar, substitui os
deuses pelos 'elementos', pelas potências cósmicas. A esses
'elementos do mundo' tributa-se um culto que consiste em cerimônias
de mistérios; pode-se falar mais claramente de uma pré-gnose.
(...) Para tentar reconstruir a doutrina herética, só contamos com
o que a carta diz. Os colossenses têm tudo em Cristo, mas se deixam
enganar pelos argumentos capciosos. Deixando a realidade que depende
de Cristo, remarcam-na com a 'plenitude' procedente da filosofia, das
tradições humanas, da religião dos 'elementos do mundo' (Cl 2,8 e
2,20). A um cristianismo mais ou menos desfigurado,
acrescentavam vários elementos exóticos: uns práticos, outros
especulativos. Os elementos práticos eram, por uma parte, um
culto exagerado e supersticioso dos anjos (Cl 2,18) (...) Do
outro lado, os especulativos, que se denominavam 'filosofia', não
eram outra coisa que fantasias de visionários, que mais tarde dariam
origem aos gnósticos. (...) Em concreto, insta-os a que entendam
que só por meio de Cristo é que nos acercamos de Deus e não por
meio dos anjos. (...) Assim, Paulo, vendo o erro deles,
escreve-lhes a carta para incentivá-los a optar por Cristo,
animando-os a adorar somente a Deus. Nenhuma outra
criatura pode salvar, a não ser Cristo, o primogênito dentre os
mortos e de toda a criação. É por seu intermédio que chegamos ao
Pai. (...)"
(Introdução
ao livro de Colossenses)
* Portanto, que possamos exercer nossa vida religiosa prestando culto somente a Deus, seja de dulia ou de latria, como está escrito em 1Sm 7.3 (no grego) e em Mt 4.10.
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