1) Conceito e sinônimos:
A Bíblia é uma palavra de origem grega que quer dizer livros. É o conjunto de livros sagrados, tanto do judaísmo, quanto do cristianismo. Existem vários sinônimos: Livro da Lei do Senhor, TaNak (para os judeus), Escrituras, Palavra de Deus, Sagradas Letras.
2)
Bíblia na Bíblia:
A palavra "Bíblia" referindo-se aos livros sagrados, encontra-se apenas nas Bíblias católicas e ortodoxas, em 1Mc12.9: "Por nosso lado, embora não tenhamos necessidade dessas vantagens, tendo para nossa consolação os livros santos [ou, a Bíblia santa, se o tradutor não tivesse traduzido a palavra grega Bíblia] que estão em nossas mãos" . Mas, nem é necessário procurar a palavra "Bíblia" na Bíblia. Basta a palavra "Escrituras", que aparece mais de 20 vezes na Bíblia.
3) Os apóstolos usaram a Bíblia?
Sim. Tanto Jesus quanto todos os escritores do
Novo Testamento, exceto apenas Judas, usaram a Bíblia judaica: Jesus
(Mt 21.42); Mateus (Mt 2.15-18); Marcos (Mc 15.28); Lucas (Lc 24.27);
João (Jo 19.24); Paulo (Rm 4.3); o autor de Hebreus (Hb 11.5); Tiago (Tg
2.23); Pedro (1Pe 2.6).
Alguns usaram a Bíblia judaica na versão
grega dos setenta, a chamada Septuaginta, como facilmente se percebe
pela diferença entre o texto da citação e o texto do original em
hebraico.
Pedro e Paulo chegaram, inclusive, a usar livros do Novo
Testamento como sendo parte das Escrituras, foi o caso de Paulo, que
cita o evangelho de Lucas em 1Tm 5,18, e Pedro, que menciona as cartas
de Paulo e as colocou em pé de igualdade com as Escrituras do AT (cf.
2Pe 3.16).
"(...) No cristianismo primitivo pode-se observar uma
evolução parecida à do judaísmo, mas com uma diferença inicial: os
primeiros cristãos tiveram as Escrituras desde o início, pois, como
judeus, reconheciam como Escrituras a Bíblia de Israel. Eram, inclusive,
as únicas Escrituras que eles reconheciam. (…)"
(Pontifícia Comissão Bíblia – O povo judeu e suas sagradas Escrituras na Bíblia cristã. Texto de 2001 – tradução pelo Google tradutor do original em espanhol)
"(...)
Para os autores e fundadores do Novo Testamento, o Antigo Testamento é
simplesmente "Escritura"; Só depois de algum tempo a Igreja pôde formar
pouco a pouco um cânon do Novo Testamento, que também constituía a
Sagrada Escritura, mas sempre de maneira que como tal pressupunha e
tinha como chave de interpretação a Bíblia de Israel, a Bíblia dos
Apóstolos e seus discípulos, que só então recebeu o nome de Antigo
Testamento. (…)"
(Cardeal Joseph Ratzinger, à época prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, na apresentação ao documento O povo judeu e suas sagradas Escrituras na Bíblia cristã, da Pontifícia Comissão Bíblica. Texto de 2001 – tradução pelo Google tradutor do original em espanhol). A fonte é a mesma da citação acima.
4) A Igreja herdou
o Antigo Testamento dos judeus e apenas acrescentou os livros do Novo
Testamento?
Sim, como podemos ler no texto abaixo: "(...) O discernimento de um «cânon» das Santas Escrituras foi a conclusão de um longo processo. As comunidades da Antiga Aliança (de grupos particulares, como os círculos proféticos ou o ambiente sacerdotal, até o conjunto do povo) reconheceram em um certo número de textos a Palavra de Deus que lhes suscitava a fé e os guiava na vida; elas receberam esses textos como um patrimônio a ser guardado e transmitido. Assim, esses textos cessaram de ser simplesmente a expressão da inspiração de autores particulares; eles se tornaram propriedade comum do povo de Deus. O Novo Testamento atesta sua veneração por esses textos sagrados, que ele recebe como uma preciosa herança transmitida pelo povo judeu. Ele os olha como as «Escrituras Santas» (Rm 1,2), inspiradas » pelo Espírito de Deus (2 Tim 3,16; cf 2 Pd 1,20- 21), que «não podem ser abolidas» (Jo 10,35). A esses textos que formam o «Antigo Testamento» (cf 2 Co 3,14), a Igreja uniu estreitamente os escritos onde ela reconheceu, de um lado o testemunho autêntico proveniente dos apóstolos (cf Lc 1,2; 1 Jo 1,1-3) e garantido pelo Espírito Santo (cf 1 Pd 1,12), sobre «todas as coisas que Jesus fez e ensinou» (At 1,1), e de outro lado instruções dadas pelos apóstolos mesmos e outros discípulos para constituir a comunidade de fiéis. Esta dupla série de escritos recebeu depois o nome de Novo Testamento. (…)"
(Pontifícia Comissão Bíblica - Interpretação da Bíblia na Igreja)
5) A importância da Bíblia dos judeus para os primeiros cristãos (antes mesmo dos livros do Novo Testamento serem escritos):
"(...) 2. Conformidade com as Escrituras
7. Outros textos afirmam que no mistério de Cristo tudo está de acordo com as Escrituras do povo judeu. A pregação cristã primitiva resumia-se na fórmula querigmática recolhida por Paulo: «Antes de tudo, transmiti-vos o que eu mesmo recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras ; que foi sepultado e ressuscitou em no terceiro dia, de acordo com as escriturase ele apareceu " (1 Cor 15,3-5). Paulo acrescenta: "então, tanto eles como eu, isso é o que pregamos; nisto crestes» (1 Cor 15,11). A fé cristã não se baseia apenas nos acontecimentos, mas na conformidade desses acontecimentos com a revelação contida nas Escrituras do povo judeu. A caminho da sua Paixão , Jesus disse: "O Filho do homem vai de acordo com o que está escrito sobre ele" (Mt 26,24; Mc 14,21). Depois de sua ressurreição, ele se dedicou a "interpretar, de acordo com todas as Escrituras, o que lhe dizia respeito ." No seu discurso aos judeus da Antioquia da Pisídia, Paulo recorda estes acontecimentos dizendo que "os habitantes de Jerusalém e os seus príncipes não o reconheceram e, condenando-o, cumpriram as Escrituras dos Profetas, lidas todos os sábados" (Act 13,27). Por essas declarações, o Novo Testamento mostra-se inseparavelmente ligado às Escrituras do povo judeu. (…)"
(Pontifícia Comissão Bíblia – O povo judeu e suas sagradas Escrituras na Bíblia cristã. Texto de 2001 – tradução pelo Google tradutor do original em espanhol)
6)
A Bíblia, ou ao menos o Novo Testamento, é criação da Igreja Católica?
Não, como se pode ler do texto abaixo: "(...) O próprio Cânon é um fato eclesial: que estes escritos sejam a Escritura resulta da iluminação da Igreja, que encontrou em si este Cânon da Escritura; encontrou, não criou. E sempre e só nesta comunhão da Igreja viva é que se pode realmente também compreender, ler a Escritura como Palavra de Deus, como Palavra que nos guia na vida e na morte. (…)
(Encontro do papa Bento XVI com o clero de Roma em 2013)
7) Exemplos semelhantes e conclusão:
O Código Penal brasileiro é anterior ou posterior à Constituição Federal de 1988?
R.:
Anterior. O Código Penal brasileiro é de 1940. Contudo, nosso Código
Penal, na forma como conhecemos hoje é bem diferente do Código Penal
original. Mudou-se boa parte da Parte Geral e vários crimes foram
acrescentados.
Porém, isso não muda o fato de o Código Penal ser anterior a 1988.
A
própria Constituição Federal brasileira é outro exemplo. Embora a
Constituição que temos hoje seja bem diferente da original, pois o
Congresso acrescentou vários artigos ao texto original, ninguém
questiona o fato de a nossa Constituição ser de 1988.
Assim também acontece com a Bíblia. Embora a que temos
hoje seja diferente da Bíblia da época dos apóstolos, pois a Igreja
acrescentou a ela os livros do Novo Testamento, não se pode negar que a Bíblia já existia, embora apenas com os livros do Antigo Testamento, os
quais, diga-se de passagem, somente foram chamados de Antigo Testamento
após a inclusão dos livros do Novo Testamento.
Negar a existência da Bíblia antes
da Igreja é ignorar que os judeus e a própria Igreja a utilizavam. A
Igreja recebeu por herança dos judeus a Bíblia e a ela uniu os livros do
Novo Testamento. Os acontecimentos só foram aceitos pelos primeiros
cristãos como fidedigna obra de Deus por estarem de acordo com a Bíblia
judaica. Nem mesmo os livros do Novo Testamento foi criação da Igreja,
ela apenas os encontrou e os guardou.
Portanto, a Bíblia enquanto livro que reúne os livros inspirados por Deus é anterior à Igreja. Porém, enquanto livro que reúne os escritos inspirados do Antigo e do Novo Testamento, é posterior, pois o Novo Testamento foi escrito pela igreja.
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