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ADORAÇÃO = VENERAÇÃO

 

II Concílio de Nicéia:

"De fato, quanto mais <os santos> são contemplados na imagem que os reproduz, tanto mais os que contemplam as <imagens> são levados à recordação e ao desejo dos modelos originais e a tributar a elas, beijando-as, respeito e veneração; não, é claro, a verdadeira adoração própria de nossa fé, reservada só à natureza divina, mas como se faz para a representação da cruz preciosa e vivificante, para os santos evangelhos e os outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de incenso e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois a honra prestada à imagem passa para o modelo original1, e quem venera a imagem venera a pessoa de quem nela é reproduzido."

(Cf. Denzinger*, 601)

*livro Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral, do padre e teólogo católico Heinrich Denzinger.

https://apostoladonovosmares.files.wordpress.com/2016/05/compc3aandio-dos-sc3admbolos-definic3a7c3b5es-e-declarac3a7c3b5es-de-fc3a9-e-moral.pdf


Mas, esse texto do Concílio de Nicéia não foi redigido originalmente em português, e sim em grego, como se pode conferir pelo print que tirei da página do livro de Denzinger:


O correspondente em grego, traduzido por venerar em português, é proskynon/proskynei/proskynesis, que geralmente é traduzido por prostrar-se ou adorar.


O papa e teólogo Bento XVI disse certa vez que proskynesis significa adoração:

"(...) Encontro uma alusão muito bela neste novo trecho que a Última Ceia nos concedeu na acepção diferente que a palavra "adoração" tem em grego e em latim. A palavra grega ressoa proskynesis. (...)"

(Homilia do papa Bento XVI em 2005)

https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2005/documents/hf_ben-xvi_hom_20050821_20th-world-youth-day.html


Curiosamente, em outra ocasião, citando são João Damasceno, Bento XVI disse que proskynesis é veneração, e não adoração:

"(...) Além disso, João Damasceno foi um dos primeiros a distinguir, no culto público e privado dos cristãos, entre adoração (latreia) e veneração (proskynesis): a primeira só pode dirigir-se a Deus, sumamente espiritual; a segunda, no entanto, pode utilizar uma imagem para se dirigir àquele que é representado na própria imagem. (...)"

(Audiência Geral de 06/05/2009)

https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2009/documents/hf_ben-xvi_aud_20090506.html


E essa posição de são João Damasceno foi a que fundamentou o entendimento da possibilidade do culto às imagens:

"(...) O Concílio Niceno II, portanto, reafirmou solenemente a distinção tradicional entre "a verdadeira adoração (latria)" que, "segundo a nossa fé, é devida somente à natureza divina" e "a prosternação de honra" (timetiké proskynesis), que é prestada aos ícones, porque "aquele que se prostra diante do icone, prostra-se diante da pessoa (a hipóstase) daquele que na figuração é representado (...)"

(papa João Paulo II - Encíclica Duodecimum Saeculum, 9)


O Catecismo da Igreja Católica cita este texto do II Concílio de Nicéia no § 2132:

"O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve"

https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap1_2083-2195_po.html


Só que o Catecismo da Igreja Católica não foi escrito originalmente em português. O original foi escrito em latim, que traz o verbo adorar em vez de venerar:

“Cultus christianus imaginum contrarius non est primo praecepto quod idola prohibet. Re vera, ‘imaginis honor ad exemplar transit’, et ‘qui adorat imaginem, adorat in ea depicti subsistentiam’. Honor sanctis imaginibus tributus est reverens veneratio, non adoratio quae soli Deo convenit” 

https://www.vatican.va/archive/catechism_lt/p3s2c1a1_lt.htm#IV.%20%C2%AB%20Non%20facies%20tibi%20sculptile...%20%C2%BB


Semelhante coisa aconteceu na encíclica Duodecimum saeculum, do papa João Paulo II. Na versão em português consta assim:

"(...) O Concílio Niceno II, portanto, reafirmou solenemente a distinção tradicional entre "a verdadeira adoração (latria)" que, "segundo a nossa fé, é devida somente à natureza divina" e "a prosternação de honra" (timetiké proskynesis), que é prestada aos ícones, porque "aquele que se prostra diante do ícone, prostra-se diante da pessoa (a hipóstase) daquele que na figuração é representado. (...)"

https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1987/documents/hf_jp-ii_apl_19871204_duodecimum-saeculum.html


Mas, no original em latim consta "adoração de honra":

"(...) Concilium Nicaenum II sollemniter propterea translaticiam roboravit distinctionem inter “veram latriam, quae secundum fidem est quaeque solam divinam naturam decet, impartiendam” atque “honorariam adorationem” (timetikè proskynesis) imaginibus tributam, quoniam “qui adorat imaginem adorat in ea depicti substantiam” (Horos, in Mansi XIII, 378 E). (...)"

https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/la/apost_letters/1987/documents/hf_jp-ii_apl_19871204_duodecimum-saeculum.html


E à Eucaristia se dá, indistintamente, o culto de adoração e de veneração:

"1378. O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras, ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. 'A Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas, apresentando-as aos fiéis para que solenemente as venerem, e levando-as em procissão'."

(Catecismo da Igreja Católica, 1378)


* Esses exemplos mostram claramente que adoração e veneração são intercambiáveis porque são sinônimos em sua essência. Veneração é um termo para a antiga expressão "adoração de honra" ou "adoração de dulia", que era um tipo de adoração, embora diferente da adoração de latria.




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