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CULTO ÀS IMAGENS

 

1) É permitido pela Igreja Católica porque o culto, na verdade, não se dirige à imagem em si, mas à pessoa nela representada:

"De fato, quanto mais <os santos> são contemplados na imagem que os reproduz, tanto mais os que contemplam as <imagens> são levados à recordação e ao desejo dos modelos originais e a tributar a elas, beijando-as, respeito e veneração; não, é claro, a verdadeira adoração própria de nossa fé, reservada só à natureza divina, mas como se faz para a representação da cruz preciosa e vivificante, para os santos evangelhos e os outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de incenso e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois a honra prestada à imagem passa para o modelo original1, e quem venera a imagem venera a pessoa de quem nela é reproduzida."

(II Concílio de Nicéia - Cf. Denzinger*, 601)


2) O papa João Paulo II falou do risco de idolatria pelo culto àsimagens:


"(...) Sem ignorar o perigo de um ressurgimento sempre possível das praticas idolátricas do paganismo, a Igreja admitia que o Senhor, a Bem-aventurada Virgem Maria, os Mártires e os Santos fossem representados em formas pictóricas ou plásticas para favorecer a oração e a devoção dos fiéis. (...)"


(Papa João Paulo II - Encíclica Duodecimum Saeculum, 8)


https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1987/documents/hf_jp-ii_apl_19871204_duodecimum-saeculum.html


3) A Bíblia católica, entretanto, não permite, pois quando se presta culto a uma pessoa ou a uma imagem de uma pessoa, nós a tratamos como um deus, já que somente Deus pode receber culto:

"Um pai aflito por um luto prematuro, tendo mandado fazer a imagem do filho, tão cedo arrebatado, honrou, em seguida, como a um deus aquele que não passava de um morto, e transmitiu aos seus certos ritos secretos e cerimônias. Este costume ímpio, tendo-se firmado com o tempo, foi depois observado como lei. Foi também em consequência das ordens dos príncipes que se adoraram imagens esculpidas, porque aqueles que não podiam honrar pessoalmente, porque moravam longe deles, fizeram representar o que se achava distante, e expuseram publicamente a imagem do rei venerado, a fim de lisonjeá-lo de longe com seu zelo, como se estivesse presente. Isto contribuiu ainda para o estabelecimento deste culto, mesmo entre os que não conheciam o rei; foi a ambição do artista que, talvez, querendo agradar ao soberano, deu-lhe, por sua arte, a semelhança do belo; e a multidão, seduzida pelo encanto da obra, em breve tomou por deus aquele que tinham honrado como homem. E isto foi uma cilada para a humanidade: os homens, sujeitando-se à lei da desgraça e da tirania, deram à pedra e à madeira o nome incomunicável" (Sabedoria 14.15-21)


* Algumas observações sobre essa interessante passagem do livro da Sabedoria, considerado canônico pelos católicos. A primeira delas é que o culto às imagens dos mortos era algo que no início significava apenas honra e veneração. Segundo, como somente Deus pode receber culto e ouvir orações, os que honram os mortos, cultuando-os e orando a eles tratam os mortos como deuses. No primeiro exemplo vemos um pai que, após a morte do filho, faz uma imagem deste e transmite certos ritos de culto. Católicos dizem que o erro não está no culto em si, mas no tratamento "como a um deus". Contudo, a intenção do escritor não é essa, e sim mostrar que cultuar um morto é tratá-lo como um deus. Certamente um pai, mesmo numa cultura politeísta, não considera seu filho morto um deus. Outro ponto importante a ser observado é que nos dois exemplos dessa passagem (do filho morto e do rei) o culto às imagens era dirigido ao original, à pessoa nelas representadas. Mesmo assim, o culto foi considerado ímpio, mostrando que essa desculpa não cola diante de Deus. No caso do rei, é dito que o povo tomou por deus aquele rei que antes honravam como homem, inclusive dando o nome de Deus à imagem dele. Da mesma forma acontece hoje com os católicos: os santos que em vida eram honrados como pessoas passaram, após suas mortes, a serem cultuados como deuses, embora por participação, não por natureza. Tomar os santos por "deuses por participação" está tão errada quanto a divinização do paganismo politeísta. Se os santos são considerados deuses por participação para os católicos (Cf. Catecismo, 460), a reprovação do texto do livro apócrifo da Sabedoria aplica-se perfeitamente a eles nos dois exemplos citados.



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