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CULTO AOS SANTOS

 

1) Somente a Deus devemos prestar culto, de latria ou de dulia:

"Jesus lhe disse: 'Vai embora, Satanás, pois está escrito: 'Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás culto' [latria]." (Mateus 4.10 - Tradução da CNBB)

* Quando Jesus diz que devemos prestar culto somente a Deus, no original do texto grego escrito por Mateus está latria, e não dulia. Só que Jesus não estava dando um mandamento novo, mas citando uma ordenança antiga, ele estava citando Dt 6.13, que diz "somente a Deus servirás (prestarás culto)" Esse verbo, no hebraico, é "abad", que em umas passagens é traduzido para o grego como latria (Dt 6.13), e em outras passagens é traduzido como dulia (Dt 28.64). Inclusive, numa mesma perícope podemos ver a palavra hebraica abad ser traduzida para o grego por latria e depois por dulia: Ex 23.24-33 e Dt 13.2-4.

 

"E Samuel disse a toda a toda a nação de Israel; 'Se vocês querem voltar-se para o Senhor de todo o coração, livrem-se então dos deuses estrangeiros e das imagens de Astarote, consagrem-se ao Senhor e prestem culto [dulia] somente a ele, e ele os libertará das mãos dos filisteus'. Assim, os israelitas se livraram dos baalins e dos postes sagrados, e começaram a prestar culto [dulia] somente ao Senhor." (1Sm 7.3-4 - Tradução da NVI)


2) A oração a Maria e aos demais santos é um culto que se presta a eles:

“971. 'Todas as gerações me chamarão bem-aventurada' (Lc 1,48): 'a piedade da Igreja para com a santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão'. A santíssima Virgem 'é com razão venerada pela Igreja com um culto especial. E, na verdade, a santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de "Mãe de Deus", e sob a sua proteção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades [...]. Este culto [...], embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente'. Encontra a sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, como o santo rosário, 'resumo de todo o Evangelho.'” 

(Catecismo da Igreja Católica, 971)

 

"Cân. 246, 3º. - Promova-se o culto da Santíssima Virgem Maria, mesmo pela recitação do rosário mariano, a oração mental e outros exercícios de piedade, graças aos quais os alunos adquiram o espírito de oração e alcancem a fortaleza da sua vocação."

(Código de Direito Canônico)


"Cân. 1.186 - Para fomentar a santificação do povo de Deus, a Igreja recomenda à veneração peculiar e filial dos fiéis a Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, que Jesus Cristo constituiu Mãe de todos os homens, e promove o verdadeiro e autêntico culto dos outros Santos, com cujo exemplo os fiéis se edificam e de cuja intercessão se valem." 

(Código de Direito Canônico)

 

3) O culto público aos mortos somente é permitido pela Igreja Católica se for a algum morto que tenha sido declarado santo ou ao menos beato:

"Cân. 1.187 - Só é lícito venerar com culto público os servos de Deus, que foram incluídos pela autoridade da Igreja no álbum dos Santos ou Beatos." 

(Código de Direito Canônico)


4) A antiga proibição de Deus do culto aos mortos:

Deuteronômio 14.1-2 diz:

"Vós sois os filhos do Senhor, vosso Deus. Não vos fareis incisões e não cortareis o cabelo pela frente em honra de um morto, porque és um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, o qual te escolheu para ser um povo que lhe pertença de um modo exclusivo entre todas as outras nações da terra."


Comentando essa passagem, a Bíblia TEB traz o seguinte:

"(...) Se a lei os proíbe [referindo-se aos ritos de luto] aqui (cf. também Lv 19,27-28; 21,5), é para se opor a toda prática que tenderia a divinizar os mortos, a cultuá-los. (...)"


E a Bíblia de Jerusalém também no mesmo sentido:

"Costuma-se ver aqui a proibição do culto aos mortos (cf. Lv 19,27+). (...)"

 

“Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não te porás a imitar as práticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, à feitiçaria, à magia ou à invocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, teu Deus, expulsa diante de ti essas nações. Serás inteiramente do Senhor, teu Deus." (Deuteronômio 18.9-13)


 

5) O livro da Sabedoria, considerado canônico pelos católicos, proíbe o culto aos mortos, pois quando os cultuamos, nós os tratamos como um deus, já que somente Deus pode receber culto:

"Um pai, sofrendo com o luto amargo, manda fazer a imagem do filho prematuramente arrebatado. A seguir, começa a cultuar, como a um deus, aquele que então havia falecido como um simples mortal, e transmite, a seus dependentes, cerimônias e sacrifícios. Depois, com o andar do tempo, o ímpio costume, afirmando-se, passa a ser observado como lei e, por ordem dos soberanos, começa-se a cultuar suas imagens." (Sabedoria 14.15-16)



6) Deus proíbe a invocação dos mortos, mas a Igreja Católica manda invocá-los:

"Quando entrares na terra que O Senhor teu Deus te dará, não aprendas a imitar as abominações daquelas nações. Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas é abominável a Deus (...)" (Deuteronômio 18.9-12a)


O santo Sínodo ordena a todos os bispos e àqueles que têm o ofício de ensinar e cuidar ‘das almas’ que, segundo o uso da Igreja católica e apostólica recebido desde os primeiros tempos da religião cristã, segundo o consenso dos santos Padres e os decretos dos sagrados concílios, instruam diligentemente os fiéis, em primeiro lugar, acerca da intercessão dos Santos, sua invocação, a honra devida às relíquias e o uso legítimo das imagens, ensinando-lhes que os Santos que reinam com Cristo oferecem a Deus as suas orações pelos homens; que é bom e útil invocá-los suplicantes e recorrer às suas orações e a seu poder e auxílio, para obter benefícios de Deus por seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que é nosso único salvador e redentor (…)” 

(Concílio de Trento. Cf. Denzinger, 1821) 


7) Saul morreu por ter consultado (invocado) um morto:

"Saul morreu por ter sido infiel a Javé: não seguiu a ordem de Javé e foi consultar uma mulher que invocava os mortos, em vez de consultar a Javé. Então, Javé o entregou a morte e passou o reinado para Davi, filho de Jessé." (1Cr 10.13-14 - Bíblia católica Edição Pastoral).

"Saul morreu por ter-se revoltado contra o Senhor, não dando atenção à sua palavra e por ter consultado os espíritos em vez de consultar o Senhor. O Senhor o entregou à morte e fez passar o reino a Davi, filho de Jessé." (1Cr 10.13-14 - Bíblia do Peregrino)


* Segundo lemos em 1Sm 28, Saul procurou uma necromante e consultou o espírito do profeta Samuel, que, obviamente, já havia falecido. Observe que Samuel, embora estivesse vivo para Deus, pois foi um santo homem de Deus, é considerado morto para fins da proibição de se invocar os mortos. Por isso que nenhum católico discorda que seja errado evocar um santo para que este apareça. A proibição é a mesma, ainda que este santo esteja vivo para Deus.


** O livro do Eclesiástico, considerado canônico e, portanto, inspirado, pelos católicos, diz assim sobre Samuel: "Até depois de morrer profetizou, anunciou ao rei seu fim; do seio da terra elevou a voz, profetizando para apagar a iniquidade do povo." (Eclesiástico 46.20[23]).


8) Irineu de Lion e Orígenes defendiam a oração somente a Deus:

Santo Irineu de Lyon (130 – 202): “Nem ela [a Igreja] realiza qualquer coisa por meio de invocações dos anjos, ou por encantamentos, ou por qualquer outra arte curiosa perversa, mas, dirige suas orações ao Senhor, que fez todas as coisas, em um puro, sincero e íntegro espírito, e invocando o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, ela está acostumada a fazer obras milagrosas para o benefício do gênero humano, e não para levá-los ao erro (...)” 

(Contra as Heresias, Livro 2- 32:5)

https://drive.google.com/file/d/0B26n-Gl1ZqBuU0VLMVJuYUJhdE0/view


Orígenes (154 – 283): “Pois invocar os anjos sem ter recebido a seu respeito uma ciência que ultrapassa o homem não é razoável. Mas suponhamos, por hipótese, que tenhamos recebido esta ciência maravilhosa e misteriosa: esta ciência em si mesma leva ao conhecimento da natureza dos anjos e dos ofícios confiados a cada um deles e não permitirá que ousemos orar a qualquer pessoa a não ser ao próprio Deus supremo, que a tudo pode satisfazer perfeitamente, por meio de nosso salvador, o Filho de Deus, que é logos, sabedoria, verdade e tudo o que dele afirmam as escrituras dos profetas de Deus e dos apóstolos de Jesus. Para tornar os santos anjos de Deus propícios a nós e levá-los a fazer tudo por nós, basta, enquanto possível à natureza humana, imitar em nossa atitude com Deus a disposição pessoal deles, pois imitam a Deus (...)” 

(Contra Celso, Livro 5 - item 5)

https://catolicotridentino.files.wordpress.com/2017/11/patrc3adstica-vol-20-contra-celso-orc3adgenes.pdf           


9) Para a Igreja Católica podemos orar aos santos, mesmo no pensamento:

"O santo Sínodo ordena a todos os bispos e àqueles que têm o ofício de ensinar e cuidar <das almas> que, segundo o uso da Igreja católica e apostólica recebido desde os primeiros tempos da religião cristã, segundo o consenso dos santos Padres e os decretos dos sagrados concílios, instruam diligentemente os fiéis, em primeiro lugar, acerca da intercessão dos Santos, sua invocação, a honra devida às relíquias e o uso legítimo das imagens, ensinando-lhes que os Santo s que reinam com Cristo oferecem a Deus as suas orações pelos homens; que é bom e útil invocá-los suplicantes e recorrer às suas orações e a seu poder e auxílio, para obter benefícios de Deus por seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que é nosso único salvador e redentor; <ensinando ainda> que opinam impiamente os que negam a invocação dos Santos que gozam no céu a eterna felicidade, ou que afirmam que não rezam a homens ou que invocá-los para que rezem por cada um de nós é idolatria ou se opõe à palavra de Deus e é contrário à honra devida ao “único mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo [cf. 1Tm 2,5], ou que é tolice rezar com palavras ou com a mente àqueles que reinam no céu."

(Concílio de Trento)

(Denzinger, 1821)

 

* Confira o tópico da proibição do culto aos anjos em Colossenses, cuja argumentação dos comentaristas de Bíblias católicas que lá eu cito valem também para o culto aos santos falecidos.



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