Aqui vemos alguns dos pais da Igreja e até doutores da Igreja afirmando que todos pecaram, o que inclui Maria. A única exceção é Jesus, por sua condição divina.
São Justino Martir (100 - 165):
"Vós, todavia, dizeis que isso aconteceu ao vosso povo; porém, se sois expulsos, depois que fostes derrotados na guerra, com razão sofreis isso, como o testemunham todas as Escrituras. Nós, contudo, que nada de semelhante fizemos, uma vez que reconhecemos a verdade de Deus, dele recebemos o testemunho de que nos tira da terra junto com Cristo, o mais justo, o único sem mancha ou pecado. Isaías clama: “Eis como o justo pereceu e ninguém percebe em seu coração; homens justos são eliminados e ninguém considera isso" (Diálogo com Trifão, 110, Coleção Patrística, pág. 177)
São Clemente de Alexandria (150 - 217):
“Ele é para nós uma imagem imaculada; a Ele devemos tentar com todas as nossas forças assimilar nossas almas. Ele é totalmente livre de paixões humanas; portanto, Ele sozinho é o juiz, porque Ele sozinho é sem pecado. No entanto, tanto quanto pudermos, tentemos pecar o mínimo possível. Pois nada é tão urgente em primeiro lugar quanto a libertação de paixões e desordens, e então a verificação de nossa responsabilidade de cair em pecados que se tornaram habituais. É melhor, portanto, não pecar de forma alguma, o que afirmamos ser prerrogativa somente de Deus; em seguida, manter-se livre de transgressões voluntárias, o que é característico do homem sábio; em terceiro lugar, não cair em muitas ofensas involuntárias, o que é peculiar àqueles que foram excelentemente treinados. Não continuar muito tempo em pecados, que isso seja classificado por último. Mas isso também é salutar para aqueles que são chamados de volta ao arrependimento, para renovar a disputa.” (O Pedagogo, Livro 1, capítulo 2).
Tertuliano (160 - 220):
“(...) Assim, alguns homens são muito maus, e alguns muito bons; mas ainda assim as almas de todas formam apenas um gênero: mesmo no pior há algo de bom, e no melhor há algo de ruim. Pois somente Deus é sem pecado; e o único homem sem pecado é Cristo, já que Cristo também é Deus. (...)” (Tratado sobre a alma, 41)
Orígenes (185 - 253):
"6. Simeão diz em seguida: “e uma espada transpassará a tua própria alma”. Qual espada é esta que transpassou não somente o coração dos outros, mas também o de Maria? A Escritura diz claramente que, no tempo da paixão, todos os apóstolos foram escandalizados, quando o próprio Senhor disse: “Todos vós sereis escandalizados nesta noite”. Portanto, todos foram escandalizados, a tal ponto que o próprio Pedro, o chefe dos apóstolos, renegou Jesus três vezes. Por que pensamos que, tendo os apóstolos sido escandalizados, a mãe do Senhor estaria imune ao escândalo? Se, durante a paixão do Senhor, ela não sofreu o escândalo, Jesus não morreu por seus pecados. Se, porém, “todos pecaram e são privados da glória de Deus, se todos são justificados e redimidos por sua graça”, Maria também, naquele tempo, esteve sujeita ao escândalo." (Homilias sobre o Evangelho de Lucas, Homilia 17, § 6, pág. 66 da Coleção Patrística da Paulus)
São Cipriano de Cartago (258):
"Ninguém está sem sujeira e sem pecado" (Tratado 12, Livro 3, 54)
São Basílio (330 - 379):
"9. Por espada entende-se a palavra que prova e julga nossos pensamentos, que penetra até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é um discernidor de nossos pensamentos. Agora, toda alma na hora da Paixão foi submetida, por assim dizer, a uma espécie de busca. De acordo com a palavra do Senhor, é dito: Todos vocês serão ofendidos por minha causa. (Mateus 26:3). Simeão, portanto, profetiza sobre a própria Maria, que quando estiver de pé junto à cruz, e contemplando o que está sendo feito, e ouvindo as vozes, após o testemunho de Gabriel, após seu conhecimento secreto da concepção divina, após a grande exibição de milagres, ela sentirá sobre sua alma uma poderosa tempestade. O Senhor estava fadado a provar a morte por todo homem — para se tornar uma propiciação para o mundo e justificar todos os homens por Seu próprio sangue. Até você mesmo, que foi ensinado do alto as coisas concernentes ao Senhor, será alcançado por alguma dúvida. Esta é a espada. Para que os pensamentos de muitos corações sejam revelados. Ele indica que após a ofensa na Cruz de Cristo uma certa cura rápida virá do Senhor para os discípulos e para a própria Maria, confirmando seus corações na fé Nele. Da mesma forma, vimos Pedro, depois de ter sido ofendido, mantendo-se mais firmemente em sua fé em Cristo. O que era humano nele foi provado insalubre, para que o poder do Senhor pudesse ser mostrado." (Carta 260,9)
Santo Ambrósio (340 - 397):
[Doutor da Igreja]
"Há também um início místico, como diz aquela passagem: Eu sou o primeiro e o último, o início e o fim – e sobretudo aquele Evangelho em que, tendo sido interrogado sobre quem era, o Senhor respondeu: o princípio, e que vos falo. Pois, verdadeiramente, também segundo a divindade, Ele é o início e o fim de todas as coisas, porque ninguém é antes dele e ninguém é depois dele. Segundo o Evangelho, ele é o início dos caminhos do Senhor em sua obra, a fim de que por ele o gênero humano aprenda a seguir os caminhos do Senhor e a fazer as obras de Deus. Assim, pois, neste “princípio”, isto é, em Cristo, Deus fez o céu e a terra, porque por ele tudo foi feito e sem Ele nada do que foi feito foi feito: “nele”, porque nele tudo subsiste e ele é o primogênito de toda criatura, seja porque ele existe antes de toda criatura, seja porque é santo, pois os primogênitos são santos; assim também Israel é primogênito, não porque nasceu antes de todos, mas porque é mais santo que os demais. O Senhor, porém, é santo sobre toda criatura e santo conforme o corpo que tomou sobre si, porque só ele é sem pecado, só ele sem vaidade, ao passo que toda criatura foi submetida à vaidade" (O Examerão, 4,15. Coleção Patrística, pág. 18)
"Então, ninguém está sem pecado, exceto Deus somente, pois ninguém está sem pecado, exceto Deus." (Tratado sobre o Espírito Santo, Livro 3, capítulo 18, 133)
“O mesmo Santo Ambrósio, no comentário sobre o profeta Isaías, ao falar de Cristo, diz: “Por isso, como homem, foi provado em tudo e à semelhança dos homens tudo sofreu; mas como nascido do Espírito foi isento do pecado (Hb 4,15). Todo homem é mentiroso (Sl 116,11) e ninguém está livre do pecado, a não ser o único Deus. Portanto, ficou estabelecido que a ninguém, nascido de homem e de mulher pela relação carnal, lhe pareça estar isento de pecado. Quem está livre de pecado, está livre também da corrupção”. Diz também no comentário ao evangelho de Lucas: “Nenhuma cópula humana desvendou os segredos do útero virginal, mas um sêmen imaculado foi depositado pelo Espírito Santo no útero inviolável. O Senhor Jesus, o absolutamente santo entre os nascidos de mulher, é o único que, pela novidade do parto imaculado, não conheceu o contágio da corrupção terrena e o rechaçou com sua celestial majestade” (Liv. II, n. 56 ad cap. 2).” (Citado por santo Agostinho em A graça e o pecado, Livro segundo, capítulo 41, § 47, pág. 189 da coleção patrística)
Santo Agostinho (354 - 430):
[Doutor da Igreja]
“Tem em conta, porém, a questão que me propuseste e o que dissertamos nesta extensa obra. Moveu-te certamente a minha afirmação sobre a possibilidade de o homem viver sem pecado, se assim o quiser com a ajuda divina, embora não tenha existido, nem existe nem existirá uma pessoa dotada desta perfeita justiça. Foi justamente isso que te asseverei nos livros que te foram anteriormente dirigidos, ou seja: ‘Se me perguntarem, se o ser humano pode viver nesta vida sem pecado, confessarei que o pode pela graça de Deus e o bom uso de sua liberdade, não duvidando de que a liberdade pertence também à ordem da graça, isto é, aos dons de Deus, não somente quanto à sua existência, mas também enquanto pratica o bem, ou seja, enquanto se converte ao cumprimento dos mandamentos do Senhor. Assim, a graça de Deus não somente manifesta o que há de fazer, mas também o ajuda para que possa fazer o que a graça manifesta’ (Méritos dos pecadores, III, n. 7). Parece-te um absurdo falar na possibilidade de um fato sem mostrar um exemplo.
Deste parecer teve origem o assunto do presente livro e, por isso, cumpria a nós mostrar que algo é possível mesmo faltando exemplos. No início desta dissertação mencionamos alguns exemplos do Evangelho e da Lei, dos quais nenhum se efetuou. Citei os exemplos da passagem do camelo pelo buraco de uma agulha (Mt 19,24), das doze mil legiões de anjos que poderiam lutar por Cristo, se ele quisesse (Mt 26,53) e daqueles povos pagãos dos quais Deus disse que poderia exterminar da face do seu povo (Dt 31,3; Jt 2,3). Poder-se-ia acrescentar os exemplos de que fala o livro da Sabedoria, como, por exemplo, os grandes flagelos com que Deus poderia atormentar os ímpios a um seu sinal, servindo-se das criaturas, flagelos que não chegaram a acontecer (Sb 16,24). Pode-se mencionar também que a fé poderia transportar montanhas (Mc 11,23), mas nunca ouvimos ou lemos que se tenha verificado tal prodígio. Pois bem, se alguém disser que qualquer destes fatos é impossível para Deus, percebes como está enganado e como faz afirmações contrariando a fé das Escrituras. Pode-se deparar muitos outros exemplos nas leituras ou apenas neles pensar. Não podemos negar que sejam possíveis para Deus, embora não se possa citar algum que tenha acontecido.” (Santo Agostinho, O espírito e a letra, Capítulo 35, 62. Coleção Patrística, pág. 62)
"Sendo este o caso, desde o tempo em que por um homem o pecado entrou neste mundo e a morte pelo pecado , e assim passou para todos os homens , até o fim desta geração carnal e mundo perecível, cujos filhos geram e são gerados, nunca existiu, nem existirá, um ser humano do qual, colocado nesta nossa vida, se possa dizer que não tinha pecado algum, com exceção do único Mediador, que nos reconcilia com nosso Criador através do perdão dos pecados." (Do mérito e do perdão dos pecados, Livro 2, 47)
"Todo o bem, portanto, da instituição nupcial foi efetuado no caso desses pais de Cristo: houve descendência, houve fidelidade, houve o vínculo. Como descendência, reconhecemos o próprio Senhor Jesus; a fidelidade, porque não houve adultério; o vínculo, porque não houve divórcio. [XII.] Só não houve coabitação nupcial; porque Aquele que seria sem pecado, e foi enviado não em carne pecaminosa, mas na semelhança da carne pecaminosa, não poderia ter sido feito na própria carne pecaminosa sem aquela vergonhosa luxúria da carne que vem do pecado, e sem a qual Ele quis nascer, a fim de que Ele pudesse nos ensinar que todo aquele que nasce de relação sexual é de fato carne pecaminosa, uma vez que somente aquilo que não nasceu de tal relação não era carne pecaminosa. No entanto, a relação conjgal não é em si pecado, quando é feita com a intenção de produzir filhos (...)" (Do Matrimônio e da concupiscência, Livro 1, 13)
"(...) Permanecendo Deus, mas também feito homem, ele foi o único que nunca teve pecado, nem assumiu a carne do pecado, apesar de vir de uma materna carne de pecado. O que ele assumiu de carne, ele o purificou para assumi-lo ou, assumindo-o, purificou-o. (...)" (O castigo e o perdão dos pecados, Livro 2, 38)
"(...) Só nasceu sem pecado aquele que uma virgem concebeu sem o abraço de um marido — não pela concupiscência da carne, mas pela casta submissão da sua mente (...)" (Sobre o Mérito e o Perdão dos Pecados e o Batismo de Crianças, Livro I, 57)
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