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patrística e culto às imagens

 


Atenágoras de Atenas (133 - 190):
(...) Em uma palavra, de nenhuma dessas estátuaspode-se dizer que não foi feito pelo homem. Se, então, esses são deuses, por que não existiram desde o princípio? Por que, na verdade, são mais jovens do que aqueles que os fizeram? Por que, na verdade, para que viessem à existência , precisaram da ajuda de homens e arte? Eles não são nada além de terra, pedras, matéria e arte curiosa.

Mas, uma vez que é afirmado por alguns que, embora estas sejam apenas imagens, ainda existem deuses em honra de quem eles são feitos; e que as súplicas e sacrifícios apresentados às imagens devem ser referidos aos deuses, e são de fato feitos aos deuses; e que não há outra maneira de vir a eles, pois: ‘É difícil para o homem encontrar na presença visível um Deus’. e enquanto, como prova de que tal é o fato, eles aduzem as energias possuídas por certas imagens, examinemos o poder atribuído a seus nomes. E eu imploro a você, maior dos imperadores, antes de entrar nesta discussão, que seja indulgente comigo enquanto apresento considerações verdadeiras; pois não é meu desígnio mostrar a falácia dos ídolos , mas, ao refutar as calúnias ventiladas contra nós, oferecer uma razão para o curso de vida que seguimos (…)” (Petição em favor dos cristãos, 17, parte final, e 18)


Santo Irineu (130 - 202):
"Alguns deles marcam a fogo os discípulos atrás do lóbulo da orelha direita. Foi assim que Marcelina, seguidora desta seita, que foi a Roma nos tempos de Aniceto, arruinou a muitos. Eles se chamam gnósticos. Possuem umas imagens, algumas pintadas outras feitas de materiais diversos, e dizem que reproduzem o Cristo e foram feitas por Pilatos quando Jesus estava com os homens. Coroam-nas e expõem-nas junto com aquelas de filósofos profanos, a saber, de Pitágoras, Platão, Aristóteles e outros e lhes prestam homenagem assim como fazem os pagãos.” (Contra as Heresias Livro 1: 25,6)


Tertuliano (160 - 240):
As ofertas para propiciar os mortos eram então consideradas como pertencentes à classe de sacrifícios fúnebres; e estas são idolatria: pois a idolatria, de fato, é uma espécie de homenagem aos falecidos; um, bem como o outro, é um serviço aos homens mortos. Além disso, demônios têm habitado nas imagens dos mortos. Para se referir também à questão dos nomes, embora este tipo de exibição tenha passado de honras dos mortos para honras dos vivos, quero dizer, para questores e magistrados – para ofícios sacerdotais de diferentes tipos; no entanto, uma vez que a idolatria ainda se apega ao nome da dignidade, tudo o que é feito em seu nome participa de sua impureza.” (Do Espetáculo, 12)


Orígenes (185 - 253):

"(...) Celso pensa que nosso culto a este prisioneiro [a Jesus], como diz, condenado à morte é semelhante à veneração de Zamolxis na terra dos getas, de Mopso na Cilícia, de Anfíloco na Acarnânia, de Anfiarau em Tebas, de Trofônio em Lebadia. Também aí o convenceremos de ter equiparado sem razão nosso culto ao de outros povos que ele menciona. Eles ergueram templos e estátuas às personagens que enumera; nós, porém, negamos à divindade a honra prestada mediante tais procedimentos: são mais apropriados aos demônios, fixados, não sei como, num lugar determinado que escolheram antecipadamente, ou que parecem habitar, atraídos por encantamentos ou sortilégios. Admiramos Jesus que afastou nosso espírito de tudo que é sensível, não só corruptível mas destinado a ser corrompido, para elevá-lo e torná-lo capaz de prestar honra ao Deus supremo por um caminho reto acompanhado de orações; nós lhe apresentamos estas orações por Aquele que, sendo mediador entre a natureza do Não-gerado e a de todas as criaturas, nos traz os benefícios do Pai e, ao mesmo tempo, à maneira do sumo sacerdote, transporta nossas orações até o Deus supremo. (…)" (Contra Celso, Livro 3: 34)


"Com base nestes exemplos, o argumento parece a Celso levar a esta conclusão: É preciso que todos os homens vivam conforme suas tradições para assim não incorrerem em censuras; mas os cristãos, que abandonaram suas tradições e não constituem um povo único como os judeus, merecem censura por aderirem ao ensinamento de Jesus. Que ele nos diga então se os filósofos que ensinam que não se deve ser supersticioso têm o dever de abandonar as tradições, até mesmo de comer os alimentos proibidos em suas pátrias, ou se uma tal conduta é contrária ao dever. Pois, se é por causa da filosofia e das lições que proíbem a superstição que eles podem, desprezando traições, comer alimentos proibidos desde o tempo de seus antepassados, por que não os cristãos? O logos lhes prescreve que não parem diante das estátuas, das imagens ou mesmo das criaturas de Deus, mas subam além delas e apresentem sua alma ao criador: por que, comportando-se como os filósofos, não seriam eles irrepreensíveis? Se para salvar a tese deles, Celso e seus adeptos afirmam que mesmo um filósofo deverá observar as tradições, então os filósofos se tornarão perfeitamente ridículos, por exemplo no Egito, evitando comer cebola para observar as tradições, ou certas partes do corpo como a cabeça ou as espáduas para não contrariar os costumes ancestrais. E ainda não falo destes egípcios que tremem aos ruídos vulgares de flatulência. Se algum deles tendo-se tornado filósofo guardasse as tradições, seria um filósofo ridículo, sem filosofia em sua conduta. O mesmo acontece quando somos conduzidos pelo logos a adorar ao Deus do universo, se, por causa das tradições, ficamos abaixados diante das imagens e das estátuas humanas; e se recusamos erguer-nos, por vontade refletida até ao criador, somos então semelhantes a homens que, apesar das luzes da filosofia, temeriam o que não precisa ser temido e julgaríamos coisa ímpia comer tais alimentos." (Contra Celso, Livro 5: 35)


"(...) Que homem sensato não riria daquele que, depois de tantas especulações filosóficas sublimes sobre Deus ou os deuses, volta seus olhos para as estátuas e lhes dirige sua prece ou, através destas imagens que ele vê, a oferece na realidade ao ser objeto de seu pensamento para o qual ele imagina que deve subir a partir das coisas visíveis e do símbolo? Mas o cristão mais simples sabe que qualquer lugar do mundo é parte do todo e que o mundo inteiro é o templo de Deus. Orando “em todo lugar”, depois de ter fechado a entrada dos sentidos e aberto os olhos da alma, eleva-se acima de todo o mundo; nem mesmo se detém na abóbada do céu, mas atingindo pelo pensamento o lugar supraceleste, guiado pelo Espírito divino e, por assim dizer, fora do mundo, faz subir até Deus sua oração que não tem como objeto as coisas passageiras. Pois ele aprendeu de Jesus a não procurar nada de pequeno, quer dizer sensível, mas somente as coisas grandes e verdadeiramente divinas que sobrevêm como dons de Deus para guiar à bem-aventurança junto dele, por seu Filho, o Logos que é Deus." (Contra Celso, Livro 7: 44)

 

“Assim como descobrimos nesta atitude a abstenção do adultério, embora pareça a mesma, uma diversidade proveniente das doutrinas e das intenções, o mesmo ocorre com a recusa de honrar a divindade nos altares, nos templos e nas estátuas. Os citas, os nômades da Líbia, os seres, povo sem deus, e os persas fundamentam sua atitude em outras doutrinas diferentes daquelas pelas quais os cristãos e os judeus não toleram este culto que se pretende oferecido à divindade. Pois nenhum desses povos pode tolerar os altares e as estátuas porque se recusaria a exautorar e aviltar a adoração devida à divindade, dirigindo-a a matéria assim modelada. A razão também não é porque eles compreenderam que são demônios que essas imagens e locais encarnam, evocados por sortilégios, ou por eles mesmos terem de outro modo tomado posse dos lugares em que eles recebem gulosamente o tributo das vítimas e vivem à procura de prazer ilícito e de indivíduos sem lei. Mas os cristãos e os judeus têm estes mandamentos: “É ao Senhor teu Deus que temerás. Só a ele servirás” (Dt 6,13); “Não terás outros deuses diante de mim”; “Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelha ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás” (Ex 20,3-5); “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto” (Mt 4,10); e muitos outros do mesmo teor. Por causa deles, não só se afastam dos templos, dos altares, das estátuas, mas também correm para a morte quando necessário, para evitar emporcalhar a noção do Deus do universo com uma infração deste gênero à sua lei (...) Aprendemos a não adorar “a criatura em lugar do Criador” (...) Aprendemos que não se deve honrar no lugar de Deus a quem nada falta, ou de seu Filho Primogênito de toda criatura, as coisas que foram submetidas à escravidão da corrupção e à vaidade, e estão na expectativa de uma esperança melhor (...) Devemos responder: é possível conhecer a Deus e seu Filho único, como os seres que são honrados por Deus com o título de deus e participam de sua divindade, e que são diferentes de todos os deuses das nações que por sua verdadeira natureza são demônios; mas na verdade não é possível conhecer a Deus e orar para as estátuas.” (Contra Celso, Livro 7: 64-65)

 

Lactâncio (240 - 320 d.C.) :

"Que loucura é essa, então, ou formar aqueles objetos que eles mesmos podem depois temer ou temer as coisas que eles formaram? Mas, eles dizem, não tememos as imagens em si, mas aqueles seres à cuja semelhança elas foram formadas, e a cujos nomes elas são dedicadas. Vocês as temem, sem dúvida, por isso, porque pensam que elas estão no céu; pois se elas são deuses, o caso não pode ser de outra forma. Por que, então, vocês não levantam seus olhos para o céu e, invocando seus nomes, oferecem sacrifícios ao ar livre? Por que vocês olham para paredes, madeira e pedra, em vez de para o lugar onde vocês acreditam que elas estão? Qual é o significado de templos e altares? O que, em suma, das próprias imagens, que são memoriais dos mortos ou ausentes? Pois o plano de fazer semelhanças foi inventado pelos homens por esta razão, para que fosse possível reter a memória daqueles que foram removidos pela morte ou separados pela ausência. Em qual dessas classes, então, devemos considerar os deuses? Se entre os mortos, quem é tão tolo a ponto de adorá-los? Se entre os ausentes, então eles não devem ser adorados, se eles não veem nossas ações nem ouvem nossas orações. Mas se os deuses não podem estar ausentes — pois, uma vez que são divinos, eles veem e ouvem todas as coisas, em qualquer parte do universo em que estejam — segue-se que as imagens são supérfluas, uma vez que os deuses estão presentes em todos os lugares, e é suficiente invocar com oração os nomes daqueles que nos ouvem. Mas se eles estão presentes, eles não podem deixar de estar à mão em suas próprias imagens. É inteiramente assim, como as pessoas imaginam, que os espíritos dos mortos vagam pelos túmulos e relíquias de seus corpos. Mas depois que a divindade começa a estar próxima, não há mais necessidade de sua estátua. (Institutos Divinos, Livro 2, capítulo 2)


Eusébio de Cesareia (265 - 339):

"(...) Eusébio se revela iconoclasta fervoroso, e, deste modo, estava na verdadeira tradição cristã, hostil às artes, à pintura. Por isso, se recusa a enviar à princesa a imagem que ela lhe pedira e põe princípios que são a condenação de qualquer culto de imagens, “a fim de não levarmos, como os gentios, o simulacro de nosso Deus por toda parte (...)”. (Introdução ao livro História Eclesiástica, da coleção Patrística)


“O que quer que tenha tido um começo, também tem um fim. Ora, o que é um começo em relação ao tempo é chamado de geração; e tudo o que é por geração está sujeito à corrupção, e sua beleza é prejudicada pelo lapso de tempo. Como, então, aqueles cuja origem é da geração corruptível, podem ser imortais? Novamente, essa suposição ganhou crédito com a multidão ignorante, que os casamentos e o nascimento dos filhos são comuns entre os deuses. Concedendo, então, a tal prole ser imortal e continuamente produzida, a raça deve necessariamente multiplicar-se em excesso: e se assim fosse, onde está o céu, ou a terra, que poderia conter uma multidão tão vasta e ainda crescente de deuses? Mas o que diremos daqueles homens que representam esses seres celestiais como unidos em união incestuosa com suas deusas irmãs, e acusá-los de adultério e impureza? Declaramos, além disso, com toda a confiança, que as próprias honras e adoração que essas divindades recebem dos homens são acompanhadas por atos de libertinagem e devassidão. Mais uma vez; o escultor experiente e hábil, tendo formado a concepção de seu projeto, aperfeiçoa sua obra de acordo com as regras da arte; e em pouco tempo, como se esquecido de si mesmo, idolatra sua própria criação, e adora-a como um deus imortal, enquanto ainda admite que ele mesmo, o autor e criador da imagem, é um homem mortal. Não, eles até mostram os túmulos e monumentos daqueles a quem consideram imortais, e concedem honras divinas aos mortos: não saber que o que é verdadeiramente abençoado e incorruptível não precisa de distinção que os homens perecíveis possam dar: pois esse Ser, que é visto pelo olho mental, e concebido apenas pelo intelecto, não precisa ser distinguido por nenhuma forma externa, e não admite nenhuma figura para representar seu caráter e semelhança. Mas as honras de que falamos são dadas àqueles que cederam ao poder da morte: eles já foram homens, e arrendatários, enquanto viviam, de um corpo mortal.” (A oração de Constantino, 4)


Santo Atanásio (296 - 373):

[Doutor da Igreja]

Este hábito não é recente e não começou com o senado romano, mas desde há muito tempo foi conhecido e praticado para inventar ídolos. É assim que os deuses outrora célebres entre os gregos, Zeus, Poséidon, Apolo, Héfaisto, Hermes, e entre as divindades femininas, Hera, Deméter, Atena, Ártemis, e Teseu, de que fala a história grega, que decidiu e ordenou chamá-los deuses. Aqueles que deram estas ordens quando morrem como homens, choramo-los; mas aqueles que foram objeto destas ordens, são adorados como deuses. Que contradição e que loucura! Eles conhecem aquele que deu estas ordens, e honram mais de que ele os que dela foram objeto. E aprouve ao céu que a sua mania dos ídolos se limitasse aos homens e que não tenham estendido às mulheres o apelido de deus. Assim as mulheres, que não é mesmo sem perigo convocá-las às assembléias para as fazer deliberar sobre os negócios públicos, recebem as honras divinas do culto e da veneração: por exemplo, aquelas que Teseu mandou adorar, e de que já falei acima, entre os egípcios, Ísis, Core, Neotera e entre outras Afrodite. Quanto às outras, julgo que não convém mesmo dar os seus nomes, pois são muito ridículos. Muitas pessoas, não somente de outrora mas também do nosso tempo, perderam entes queridos, irmãos, pais, as esposas, muitas mulheres perderam o marido; se bem que a natureza lhes demonstrasse que eram homens mortais, no seu grande luto entretanto, eles os fizeram pintar e levantar a sua imagem aos quais oferecem sacrifícios, pois os que vieram posteriormente por causa desta imagem e da ambição de artistas, os honraram como deuses, e isso era um sentimento que não era natural. Aqueles cujos parentes tinham chorado como se não fossem deuses porque se eles os houvessem considerado deuses, não se lamentariam a respeito de sua perda; e precisamente porque longe de pensar que eles fossem deuses, eles os julgavam desaparecidos para sempre e os faziam apresentar-se de novo em imagem para se consolar da sua perda vendo a aparência desta imagem — e, entretanto, é para aqueles que estes insensatos dirigem orações como a deuses e rendem as honras devidas ao Deus verdadeiro. Ainda hoje, no Egito, celebram-se mistérios de luto pela perda de Osíris, de Horo, de Tifon e de outros. Em Dodone, os escudos de bronze e em Creta, os Coribantes, são a prova de que Zeus não era um deus, mas homem e ainda nascido de pai canibal. E o admirável é ver aquele que passava por tão sábio entre os gregos, que se glorificava tanto de ter meditado sobre Deus, Platão, descer ao Pireu com Sócrates, para adorar Ártemis, obra da arte de homem!” (santo Atanásio, Contra os pagãos, 10)

 




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