Eusébio de Cesareia (265 - 339) traz as listas de Flávio Josefo (37 - 100), de Militão (? - 177) e de Orígenes (185 - 253):
“Não há pois entre nós [judeus] milhares de livros em desacordo e em mútua contradição, mas há sim, apenas vinte e dois livros que contêm a relação de todo o tempo e que com justiça são considerados divinos. Destes, cinco são de Moisés, e compreendem as leis e a tradição da criação do homem até a morte de Moisés. Este período abarca quase três mil anos. Desde a morte de Moisés até a de Artaxerxes, rei dos persas depois de Xerxes, os profetas posteriores a Moisés escreveram os fatos de suas épocas em treze livros. Os outros quatro contêm hinos em honra a Deus e regras de vida para os homens. Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja’. Estas palavras do autor aqui apresentadas não deixarão de ser úteis.” (História Eclesiástica, Livro III, 10:1-6)
“E nos Extratos por ele escritos, o mesmo Militão, ao começar, faz no prólogo um catálogo dos escritos admitidos do Antigo Testamento, catálogo que é necessário enumerar aqui. Escreve assim: ‘Militão a seu irmão Onésimo: Saúde. Visto que muitas vezes, valendo-te de teu zelo pela doutrina, tens pedido para ti extratos da lei e dos profetas, sobre o Salvador e toda a nossa fé; mais ainda, já que quiseste saber dos livros antigos com toda exatidão quantos são em número e qual é sua ordem, pus minha diligência em fazê-lo, sabendo de teu ardor pela fé e teu afã de saber sobre a doutrina, já que em tua luta pela salvação eterna e em tua ânsia por Deus, preferes isto mais do que tudo. Assim pois, tendo subido ao Oriente e chegado até o lugar em que se proclamou e se realizou, informei-me com exatidão dos livros do Antigo Testamento. Ordenei-os e envio-os a ti. Seus nomes são: cinco de Moisés: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio; Jesus de Navé, Juízes, Rute; quatro dos Reis, dois dos Paralipômenos; Salmos de Davi; Provérbios de Salomão, também chamado Sabedoria, Eclesiastes, Cantar dos Cantares, Jó; dos profetas, Isaías, Jeremias, os doze em um só livro, Daniel, Ezequiel; Esdras. Destes livros tirei os Extratos, que dividi em seis livros’. E é isto que há de Militão” (Conservado por Eusébio em História Eclesiástica, Livro IV, Cap.26, v.12-14)
“Ao explicar o salmo primeiro, ele [Orígenes] faz uma exposição do catálogo das Sagradas Escrituras do Antigo Testamento, escrevendo textualmente como segue: ‘Não se pode ignorar que os livros testamentários, tal como os transmi¬tiram os hebreus, são vinte e dois, tantos como o número de letras que há entre eles’. Logo, depois de algumas frases, continua dizendo:’Os vinte e dois livros, segundo os hebreus, são estes: o que entre nós se intitula Gênesis, e entre os hebreus Bresith, pelo começo do livro, que é: No princípio; Êxodo, Ouellesmoth, que significa: Estes são os nomes; Levítico, Ouikra: E chamou; Números, Ammesphekodeim; Deuteronômio, Elleaddebareim: Estas são as palavras; Jesus, filho de Navé, Josuebennoun; Juízes e Rute, para eles um só livro: Sophtein; I e II dos Reis, um só para eles: Samuel, O eleito de Deus; III e IV dos Reis, em um: Ouammelchdavid, que significa Reino de Davi; I e II dos Paralipômenos, em um: Dabreiamein, isto é: Palavras dos dias; I e II de Esdras em um: Ezra, ou seja, Ajudante; Livro dos Salmos, Spharthelleim; Provérbios de Salomão, Meloth; Eclesiastes, Koelth; Cantar dos Cantares (e não, como pensam alguns, Cantares dos cantares), Sirassireim; Isaías, Iessia; Jeremias, junto com as Lamentações e a Carta, em um: Ieremia; Daniel, Daniel; Ezequiel, Iezekiel; Jó, Iob; Ester, Esther. E além destes estão os dos Macabeus, que são intitulados Sarbethsabanaiel’" (História Eclesiástica, Livro VI, 25:1,2)
Santo Atanásio (295 – 373 d.C.):
“Há, portanto, 22 Livros do Antigo Testamento, número que, pelo que ouvi, nos foram transmitidos, sendo este o número citado nas cartas entre os Hebreus, sendo sua ordem e nomes respectivamente, como se segue: Primeiro, o Gênesis. Depois, o Êxodo. Depois, o Levítico. Em seguida, Números e, por fim, o Deuteronômio. Após esses, Josué, o filho de Nun. Depois, os Juízes e Rute. Em seguida, os quatro Livros dos Reis, sendo o primeiro e o segundo listados como um livro, o terceiro e o quarto também, como um só livro. Em seguida, o primeiro e o segundo Livros das Crônicas, listados como um só livro. Depois, Esdras, sendo o primeiro e o segundo igualmente listados num só livro. Depois desses, há o Livro dos Salmos, os Provérbios, o Eclesiastese o Cântico dos Cânticos. O Livro de Jó. Os doze Profetas são listados como um livro. Depois Isaías, um livro. Depois, Jeremias com Baruc, Lamentaçõese a Carta [de Jeremias], num só livro. Ezequiel e Daniel, um livro cada. Assim se constitui o Antigo Testamento” (Epístola 39, 4)
“Mas para maior exatidão eu adiciono isto também, escrevendo por necessidade, que há outros livros além destes que não estão incluídos no Cânon, mas apontados pelos Pais para leitura por aqueles que acabaram de se juntar a nós, e que desejam instrução na palavra celestial. A Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Siraque, Ester, Judite, Tobias, aquele que é chamado de o Ensino dos Apóstolos e o Pastor. Mas os primeiros, meus irmãos, são incluídos no Cânon, sendo os últimos meramente para leitura” (Epístola 39, 7)
São Cirilo de Jerusalém (315 – 386):
“Agora estas divinamente inspiradas Escrituras do Velho e Novo Testamento nos ensinam (...) Aprenda também diligentemente, e da Igreja, quais são os livros do Velho Testamento, e quais aqueles do Novo... Leia as Divinas Escrituras, os vinte e dois livros do Velho Testamento, estes que foram traduzidos pelos setenta e dois intérpretes (...) Destes leia os vinte e dois livros, mas não tenha nada com os livros apócrifos. Estude seriamente estes apenas, os quais nós lemos abertamente na Igreja. Mais sábio e mais piedoso que a ti mesmo foram os apóstolos, e os bispos dos tempos antigos, os presidentes da Igreja, que nos transmitiram estes livros. Sendo então um filho da Igreja, não falsifique seus estatutos. E do Velho Testamento, como temos dito, estude os dois e vinte livros, que se for desejoso de aprender, se esforce em lembrar pelo nome, como eu os cito. Pois a Lei, os livros de Moisés, são os cinco primeiros, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. E depois Josué, o filho de Num, e o livro de Juízes, incluindo Rute, contado como sete. E dos outros livros históricos, o primeiro e segundo livro dos Reis são entre os hebreus um livro; também o terceiro e quarto um livro. E da mesma forma, o primeiro e segundo de Crônicas são para eles um livro e o primeiro e segundo de Esdras são contados como um. Ester é o décimo segundo livro, estes são os escritos históricos. Mas aqueles que são escritos em versos são cinco, Jó, o livro de Salmos, Provérbios, Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos, que é o décimo sétimo livro. E depois destes vem os cinco livros Proféticos: dos doze Profetas um livro, de Isaías um, de Jeremias um, incluindo Baruque e Lamentações e a Epístola, então Ezequiel e o livro de Daniel, o vigésimo segundo do Velho Testamento” (Leituras catequéticas, Leitura 4, 33-36)
*Vê-se claramente que apesar de os pais da Igreja citados afirmarem 22 livros do Antigo Testamento (nossos 39 atuais), parece que Atanásio excluiu Ester do cânon, e parece também haver entre alguns a inclusão de Baruc, da Carta de Jeremias, dos acréscimos em Ester e em Daniel (História de Susana, Bel e o Dragão) e até mesmo menção aos livros dos Macabeus (os 4 que aparecem na Septuaginta e nas Bíblias ortodoxas ou os 2 das Bíblias católica?)
PATRÍSTICA E CÂNON BÍBLICO
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